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Essencial e Descomplicado

Por Trás dos Rótulos: Como a Indústria Esconde Ingredientes em Cosméticos, Alimentos e Medicamentos

Descubra como substâncias de origem animal são disfarçadas no mercado como naturais, seguras e inofensivas

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Você já leu um rótulo e achou que entendia exatamente o que estava consumindo? Palavras como “natural”, “orgânico” ou “saudável” transmitem a sensação de segurança, saúde e ética. Mas a realidade por trás desses termos é muito mais obscura. A indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica se vale de códigos técnicos, nomes científicos e eufemismos deliberados para ocultar a origem real de muitos ingredientes.

Estamos cercados por substâncias extraídas de animais... algumas obtidas por métodos cruéis, outras disfarçadas sob palavras neutras como “proteína”, “enzima” ou “cera”. Em muitos casos, esses ingredientes derivam da morte de animais, da destruição de ecossistemas ou da exploração sistemática de seres sencientes, como peixes, porcos, vacas e ovelhas.

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Este guia investiga 20 desses ingredientes controversos. Para cada um, revelamos sua origem verdadeira, como ele aparece nos rótulos e por que sua presença, mesmo em pequenas quantidades, levanta sérias questões éticas.

→ Porque saber o que estamos consumindo é o primeiro passo para fazer escolhas mais conscientes.

1. Carmim ou Cochonilha (INS120): Beleza tingida de crueldade

Carmim é um pigmento vermelho intenso extraído da cochonilha (Dactylopius coccus), um pequeno inseto parasita. Estima-se que são necessários até 70 mil insetos para produzir apenas 500g do corante, e para isso os insetos são secos e triturados.
Esse ingrediente está presente em balas, iogurtes de morango, bebidas, cosméticos e até medicamentos revestidos. A maioria dos consumidores não imagina que algo tão "colorido e frutado" deriva de sangue de insetos.
🔸 A armadilha: escondido nos rótulos como “corante natural”, “E120” ou “INS120”.

2. Caseína: A proteína que perpetua a exploração das vacas

Extraída do leite, a caseína é usada na produção de queijos, suplementos, tintas e colas industriais. Sua extração depende do sistema de produção de leite, que força vacas a engravidar continuamente, separa bezerros das mães e explora o corpo do animal até sua exaustão.
🔸 A armadilha: aparece como “proteína do leite”, “caseinato” ou apenas “proteína concentrada”.

3. Castóreo: O perfume que custa a vida de um castor

O castóreo é um exsudato obtido das glândulas anais de castores, usado em perfumes e como aromatizante em alguns alimentos. Embora raro hoje, ainda é utilizado por perfumistas tradicionais. O animal é morto para remoção das glândulas.
🔸 A armadilha: escondido sob a expressão genérica “aroma natural” ou “fragrância”.

4. Cisteína (INS920): Um ingrediente humano demais

Utilizada como melhorador de farinha, a cisteína garante textura fofa a pães e massas. Pode ser sintetizada de forma vegana, mas com frequência é extraída de penas de aves ou até cabelo humano, importado da China.
🔸 A armadilha: declarada como “INS920”, “L-cisteína” ou “melhorador de farinha”.

5. Colágeno: A juventude vendida em cápsulas de dor

O colágeno é promovido como suplemento antienvelhecimento, mas sua origem raramente é mencionada: restos de matadouros, peles, tendões e ossos de bovinos e suínos.
🔸 A armadilha: aparece como “colágeno hidrolisado”, “peptídeos de colágeno” ou “proteína estrutural”.

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6. Elastina: Pele mais firme, obtida da espinha de vacas

Prometendo firmeza e beleza, a elastina é extraída de restos animais como ossos, peles, tendões e até colunas vertebrais de vacas. São comuns em cosméticos e suplementos, perpetuando a lógica da indústria de abate.
🔸 A armadilha: disfarçada como “proteína elástica” ou "complexo regenerativo".

7. Esqualeno: O brilho do fígado dos tubarões

Presente em hidratantes e maquiagens de luxo, o esqualeno é tradicionalmente obtido do fígado de tubarões, muitos deles ameaçados de extinção. Milhões de tubarões são mortos anualmente para sua obtenção. Há versões vegetais, mas o consumidor raramente sabe qual está comprando.
🔸 A armadilha: descrito como “esqualeno” sem origem definida.

8. Gelatina: A ligação invisível com o abatedouro 

A gelatina é um ingrediente onipresente em vários produtos industrializados. Ela está em balas, iogurtes, sobremesas, cápsulas de remédio, cosméticos e até em suplementos. Sua produção é feita a partir da fervura prolongada de partes específicas de animais abatidos como ossos, peles, tendões, cartilagens e tecidos conjuntivos de vacas e porcos. Durante o processo, essas partes são derretidas e transformadas em uma substância espessa, purificada, desidratada e então transformada em pó ou folhas.
🔸 A armadilha: presente como “gelatina”, “proteína hidrolisada”, “agente gelificante”, “estabilizante natural”.

9. Gelatina de Peixe: Claridade que custa a vida de peixes

A gelatina de peixe, também chamada de isinglass, é uma substância coloidal extraída da bexiga natatória (um órgão de flutuação) de peixes tropicais, especialmente esturjões e tilápias. Seu uso principal é na clarificação de bebidas como vinhos e cervejas artesanais, ela ajuda a remover partículas sólidas e deixar o líquido mais límpido.
🔸A armadilha: raramente declarada no rótulo final, mas quando aparece, pode estar disfarçada como “agente clarificante”, “gelificante natural” ou “colágeno marinho”.

10. Geleia Real: A substância que sacrifica a colmeia para nutrir humanos

A geleia real é um fluido esbranquiçado e viscoso secretado pelas glândulas das abelhas operárias. Na natureza, ela é usada para alimentar larvas e a abelha-rainha. Sua produção é extremamente desgastante para as operárias e para colher apenas 500g de geleia real, mais de 1.000 colmeias precisam ser manipuladas.
A indústria apícola interfere diretamente no ciclo natural da colmeia: rainhas são substituídas com frequência, larvas são removidas à força, e o ambiente natural é artificialmente controlado. Isso enfraquece as colmeias e pode contribuir para o colapso populacional das abelhas.
🔸A armadilha: geralmente aparece em suplementos e cosméticos com apelo "natural", sob os nomes “nutrição real”, “energia da colmeia” ou “leite das abelhas”.

Imagem Para-deixar-o-pão-fofinho-usam-penas-ou-até-cabelo-humano

11. Goma Laca (INS904): Brilho feito de vidas

À primeira vista, a goma laca, também conhecida como shellac, parece algo inofensivo... é apenas um revestimento brilhante que dá aspecto sedoso e impermeável a balas, frutas, remédios, cosméticos e até móveis. No entanto, por trás de seu nome técnico e discreto se esconde um ingrediente de origem animal, extraído através da morte em massa de insetos chamados Kerria lacca
🔸 A armadilha: presente como "goma laca", "INS904", "E904", "resina natural", "shellac", “brilho natural” ou “revestimento comestível”

12. Gordura Butírica: A gordura invisível do leite

Pouco conhecida fora do meio técnico, a gordura butírica é um ingrediente de origem animal que aparece discretamente em diversos alimentos processados. Seu nome vem do ácido butírico, que deriva da palavra latina butyrum, que significa “manteiga” e não é coincidência: trata-se de uma gordura típica do leite de vaca, resultante do processo de fermentação no rúmen (estômago) de animais ruminantes.
🔸A armadilha: ela aparece disfarçada sob diversos termos técnicos ou genéricos, como "aromatizante idêntico ao natural (sabor manteiga)”, “manteiga concentrada”, “gordura láctea”, “ácido butírico”, “aromas naturais de leite”

13. Lactitol (INS966): O adoçante "amigo da dieta" que carrega o peso da indústria do leite

O lactitol é frequentemente promovido como um adoçante saudável. Seu sabor suave e baixa caloria o tornaram popular na indústria alimentícia. O lactitol é um poliol (um tipo de álcool de açúcar), derivado da lactose... o açúcar natural presente no leite de vaca. 
O lactitol aparece em uma enorme variedade de produtos industrializados “sem açúcar” ou com apelo funcional como balas, chocolates e gomas de mascar diet/light, biscoitos, sobremesas dietéticas, sorvetes, produtos para diabéticos, pastilhas e remédios (em excipientes).
🔸A armadilha: a indústria costuma utilizar termos técnicos ou códigos que dificultam a identificação clara de sua origem como “lactitol”, “INS966”, “E966”, “adoçante natural”, “álcool de açúcar”, “poliól”

Alternativas vegetais ao lactitol:

Xilitol (de origem vegetal - geralmente do milho ou da bétula)

Eritritol (produzido a partir de frutas ou milho fermentado)

Maltitol (geralmente derivado do amido de milho)

Stevia (extraída da planta Stevia rebaudiana)

14. Guarina: Cintilância feita de escamas

Utilizada em sombras, iluminadores, esmaltes e batons com efeito metálico ou perolado, a guanina é uma substância extraída de escamas de peixes, especialmente arenques, que são lavadas, secas e trituradas para refletir a luz de forma cintilante. A extração é feita com alto custo ambiental e animal, já que exige grande volume de escamas por grama de pó final.
🔸 A armadilha: aparece em rótulos como “mica natural” ou simplesmente “brilho perolado”.

15. Lanolina (INS913): Hidratante à base de dor

A lanolina é uma substância gordurosa extraída da lã de ovelhas, que se acumula na pele do animal para protegê-lo da umidade. Apesar de ser tecnicamente um “subproduto”, sua obtenção está intimamente ligada à indústria da lã, marcada por práticas como mulesing (remoção dolorosa da pele da ovelha sem anestesia), cortes agressivos durante a tosa e, muitas vezes, abate precoce. A lanolina é muito usada em hidratantes labiais, cremes para mãos, pomadas para mamilo e cosméticos infantis.
🔸 A armadilha: aparece como “óleo de lã”, “emoliente natural” ou “cera de ovelha”.

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16. Pepsina: Enzima digestiva que começa no estômago do porco

A pepsina é uma enzima digestiva poderosa obtida a partir do revestimento do estômago de porcos abatidos. Ela é usada na indústria de alimentos para “pré-digerir” proteínas, como na fabricação de queijos, suplementos enzimáticos e fórmulas infantis.
🔸 A armadilha: declarada apenas como “enzima natural”, “fermento enzimático” ou “agente digestivo”.

17. Própolis: A resina roubada da colmeia

Própolis é uma substância resinosa que as abelhas produzem a partir da seiva de árvores misturada com cera e saliva, usada para proteger e esterilizar o interior da colmeia contra fungos e bactérias.
Na indústria humana, é extraído em grande escala por apicultores, retirando uma defesa vital da colônia. O impacto disso pode comprometer o equilíbrio e a imunidade das abelhas, que já enfrentam declínios populacionais alarmantes.
🔸 A armadilha: frequentemente vendida como “cura natural” ou “defesa biológica”.

18. Queratina: Força capilar que vem da decomposição animal

A queratina é uma proteína fibrosa presente naturalmente em cabelos, unhas, cascos, chifres e penas. Na indústria cosmética, especialmente em tratamentos de alisamento capilar, a versão comercial da queratina é extraída de subprodutos da indústria da carne e couro, como cascos e penas de animais abatidos. Sua obtenção envolve fervura ou decomposição química de tecidos animais.
🔸 A armadilha: descrita como “proteína fortificante”, “reconstrução capilar” ou “nutrição capilar profunda”.

19. Sebo: Sabonete feito com gordura de vaca

O sebo é uma gordura sólida extraída da gordura abdominal de bois e ovelhas abatidos. Utilizado em sabonetes, cremes hidratantes, batons, velas e até em alimentos ultraprocessados como salgadinhos e recheios, ele é um dos ingredientes de origem animal mais presentes no cotidiano.
🔸 A armadilha: aparece como “tallow”, “ácido esteárico” ou “base vegetal” (quando misturado).

20. Seda: Delicadeza que silencia insetos

A seda é produzida por larvas do bicho-da-seda (Bombyx mori) durante a construção do casulo. Para obter as fibras longas e intactas, os casulos são fervidos com os bichos ainda vivos dentro, impedindo que eles saiam naturalmente e rompam os fios. Cada metro de tecido pode representar a morte de até 10 mil larvas. 
Apesar da disponibilidade de tecidos alternativos (como seda de amora ou de bambu), a indústria tradicional ainda mantém práticas cruéis sob uma imagem de sofisticação.
🔸 A armadilha: aparece como “proteína da seda”, “fibra luxuosa”, “fibra natural premium” ou “fibras naturais”.

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A indústria cosmética e alimentícia usa uma linguagem técnica e códigos numéricos para encobrir ingredientes que causariam repulsa se fossem nomeados claramente. Mas o rótulo pode ser apenas o começo. Questionar, investigar e optar por produtos com certificações confiáveis (como veganos ou cruelty-free) é um passo para uma vida mais ética e informada.

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