Um homem na faixa dos 40 anos, morador de Tampa, Flórida, desenvolveu nódulos amarelados nas mãos, pés e cotovelos após seguir uma dieta carnívora por cerca de oito meses. 
O paciente procurou atendimento médico três semanas após notar o aparecimento das lesões. Exames de sangue revelaram que seus níveis de colesterol haviam atingido mais de 1000 mg/dL—quatro vezes o valor considerado normal. Para comparação, níveis acima de 240 mg/dL já são considerados altos. Os médicos diagnosticaram o paciente com xantomas, especificamente xantelasmas, que são depósitos de colesterol na pele.

Relato do Caso no JAMA Cardiology

Um trio de cardiologistas, dois do Tampa General Hospital e um do MD Anderson Cancer Center da Universidade do Texas, relatou o caso do paciente no JAMA Cardiology. Os médicos Konstantinos Marmagkiolis, Jaime Caballero e Cezar Iliescu descreveram os sintomas do homem, que procurou atendimento no Tampa General após notar o surgimento dessas lesões em várias partes do corpo.

O paciente relatou que os nódulos começaram a aparecer três semanas antes da consulta. Após uma avaliação detalhada, os médicos descobriram que ele havia adotado a chamada dieta carnívora cerca de oito meses antes do surgimento dos sintomas.

A dieta carnívora é uma tendência alimentar baseada no consumo excessivo de gorduras animais, eliminando praticamente todos os outros tipos de alimentos. Nesse caso, o paciente afirmou ingerir quase 10 libras (aproximadamente 4,5 kg) de manteiga, queijo e outros alimentos gordurosos diariamente, além de adicionar gordura extra aos hambúrgueres que consumia regularmente. Apesar de relatar perda de peso, maior energia e clareza mental, os efeitos negativos dessa alimentação ficaram evidentes.

Os exames de sangue revelaram que seus níveis de colesterol estavam cerca de quatro vezes acima do normal. Os médicos diagnosticaram o paciente com xantelasma, uma condição caracterizada pelo acúmulo de depósitos amarelados de colesterol em diferentes partes do corpo—no caso dele, nas palmas das mãos, solas dos pés e cotovelos. O quadro havia se agravado a ponto de parte do colesterol estar emergindo por fissuras na pele.

Os especialistas recomendaram que ele reduzisse drasticamente o consumo de gorduras. No entanto, explicaram que apenas mudar a alimentação não eliminaria os nódulos, que precisariam ser removidos cirurgicamente ou tratados com nitrogênio líquido. Além disso, alertaram sobre os riscos elevados de doenças cardiovasculares, maior probabilidade de acidente vascular cerebral e possíveis complicações hepáticas associadas a níveis tão elevados de colesterol.

O Papel da Dieta Carnívora

A dieta carnívora é um padrão alimentar extremamente restritivo baseado exclusivamente no consumo de produtos de origem animal, eliminando completamente vegetais, frutas, grãos, leguminosas e outros alimentos vegetais. Essa dieta ganhou popularidade em comunidades que promovem o consumo de carnes como fonte primária de nutrição, muitas vezes defendendo alegações sobre perda de peso e melhora da saúde mental.

Importante lembrar que, até o momento, os estudos científicos sobre a dieta carnívora são extremamente limitados. Embora haja relatos anedóticos de benefícios, como perda de peso e aumento de energia, não existem estudos clínicos rigorosos de longo prazo que avaliem seus efeitos na saúde de maneira conclusiva. Isso ocorre porque não seria ético submeter pessoas a um experimento que restringisse completamente grupos alimentares essenciais, potencialmente causando deficiências nutricionais e riscos à saúde

O Que São Xantelasmas?

Xantelasmas são placas amareladas causadas pelo acúmulo de colesterol sob a pele, geralmente associadas a altos níveis de lipídios no sangue. Embora não sejam dolorosos, indicam um risco elevado para doenças cardiovasculares, aterosclerose, acidente vascular cerebral (AVC) e problemas hepáticos. O corpo pode não conseguir metabolizar o excesso de colesterol, levando à sua deposição nos tecidos e ativação do sistema imunológico, o que forma essas placas.

Comparação com Outras Dietas

Dieta Cetogênica vs. Dieta Carnívora

Ambas as dietas são low-carb, mas a dieta cetogênica permite vegetais e fontes de gorduras insaturadas, como abacate e azeite de oliva, enquanto a carnívora elimina completamente os vegetais, o que pode levar a deficiências nutricionais mais severas.

Dieta Mediterrânea: Uma Alternativa Equilibrada

A dieta mediterrânea é rica em gorduras saudáveis, como azeite de oliva e oleaginosas, além de incluir vegetais, grãos integrais e proteínas magras, proporcionando um equilíbrio para a saúde cardiovascular.

Dieta Plant-Based: Benefícios para o Colesterol

Estudos mostram que dietas à base de plantas, ricas em fibras, antioxidantes e compostos bioativos, ajudam a reduzir o colesterol LDL e promover a saúde do coração. Alimentos como aveia, chia, linhaça, nozes e leguminosas auxiliam na regulação dos lipídios sanguíneos e na prevenção de doenças cardiovasculares. Além disso, as fibras solúveis presentes nesses alimentos ajudam a reduzir a absorção de colesterol no intestino, promovendo sua excreção.

Outro fator crucial é a ausência de gorduras saturadas em dietas baseadas em plantas. Estudos indicam que o consumo excessivo dessas gorduras, como ocorre na dieta carnívora, pode elevar os níveis de LDL oxidado, uma forma altamente aterogênica que contribui para o desenvolvimento de placas de gordura nas artérias.

Efeitos Nutricionais e Metabólicos

Dietas extremamente ricas em gorduras saturadas, como a carnívora, podem desencadear um aumento na inflamação crônica do corpo, impactando negativamente a saúde cardiovascular. Além disso, a ausência de fibras pode comprometer a saúde intestinal e dificultar a eliminação do excesso de colesterol.

Por outro lado, dietas plant-based favorecem um perfil lipídico mais saudável, pois reduzem o LDL e aumentam o HDL ("bom" colesterol), melhorando a função endotelial e diminuindo o risco de doenças cardiovasculares. A abundância de polifenóis, flavonoides e fitonutrientes também contribui para a redução da inflamação sistêmica e melhora da saúde arterial.

Estratégias de Prevenção e Tratamento

Ajuste alimentar: Reduzir a ingestão de gorduras saturadas e priorizar fontes saudáveis de lipídios, como castanhas, sementes e azeite de oliva.

Incorporação de fibras solúveis: Alimentos como aveia, linhaça e leguminosas ajudam a reduzir a absorção de colesterol no intestino.

Aumento do consumo de antioxidantes: Frutas, vegetais e alimentos ricos em compostos bioativos podem reduzir a inflamação e prevenir a oxidação do LDL.

Acompanhamento médico e nutricional: Monitorar regularmente os níveis de colesterol, triglicerídeos e marcadores inflamatórios para prevenir complicações cardiovasculares.

Lições Sobre Nutrição e Saúde

Dietas restritivas e ricas em gorduras saturadas podem levar a complicações sérias. Além do excesso de colesterol e sódio, a ausência de alimentos vegetais pode resultar em deficiências de fibras, vitamina C e folato, impactando negativamente a saúde.

Diante disso, é fundamental adotar um padrão alimentar equilibrado e personalizado, levando em conta as necessidades individuais e os riscos associados a dietas extremamente restritivas. A orientação de profissionais de saúde, como nutricionistas e cardiologistas, é essencial para garantir uma alimentação adequada e prevenir complicações metabólicas e cardiovasculares.

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