Renault dá Adeus ao Couro até 2025 e Lança Desafio para Outras Montadoras
Sustentabilidade, inovação e compaixão marcam a decisão histórica que pode redefinir os padrões da indústria automotiva
A indústria automotiva vive um momento de transformação acelerada, em que sustentabilidade e inovação caminham lado a lado. Se, por um lado, a transição para os veículos elétricos tem recebido maior atenção, por outro, cresce a pressão para que as montadoras repensem também os materiais utilizados em seus acabamentos. Nesse cenário, a Renault dá um passo ousado e simbólico: até o final de 2025, todos os seus carros terão interiores completamente livres de couro animal.
Renault promete interiores 100% livres de couro até 2025
A decisão, resultado de diálogos com os grupos de defesa dos animais PETA França e PETA Alemanha, reforça o compromisso da marca francesa em adotar soluções mais éticas e sustentáveis.
Os modelos mais recentes da fabricante, como o Renault 5 E-Tech Electric, Symbioz e Rafale, já saem de fábrica com interiores sem couro, substituídos por tecidos ecológicos feitos a partir de fibras recicladas e resíduos plásticos reaproveitados.
Segundo a PETA, cresce a demanda por veículos com interiores livres de produtos de origem animal. Embora até 90% do impacto ambiental de um carro esteja relacionado ao consumo de combustível e às emissões, a própria fabricação de automóveis gera uma pegada de carbono significativa.
Nesse sentido, evitar o uso do couro, cuja cadeia produtiva está ligada à poluição, ao desmatamento, a violações de direitos humanos e à crueldade animal, torna-se uma forma prática e eficaz de reduzir o impacto do setor automotivo. Um relatório da PETA publicado em 2023 já destacava as alternativas veganas disponíveis em toda a Europa, livres de couro e lã.
A ONG também instigou outras fabricantes, como Audi, Porsche e ŠKODA, que ainda não oferecem opções 100% livres de couro, a seguirem o exemplo da Renault. Para se ter ideia, estima-se que sejam necessários em média três couros de vaca ou boi para revestir o interior de um carro de tamanho padrão. Globalmente, a indústria do couro é responsável pela morte de cerca de um bilhão de animais por ano.
Compromisso com a inovação e a compaixão
De acordo com a Grand View Research, o mercado global de couro automotivo movimentou aproximadamente US$ 33,35 bilhões em 2022, com previsão de chegar a US$ 54,22 bilhões até 2030. Em 2022, o couro animal ainda representava quase 60% desse mercado.
“É impossível desfrutar de um passeio relaxante e luxuoso carregando o peso do sofrimento animal e da poluição ambiental”, afirma James Fraser, representante corporativo da PETA França. “Ao optar por materiais livres de crueldade, a Renault protege os animais, reduz sua pegada de carbono e prova que compaixão e inovação caminham lado a lado.”
A tendência já começa a repercutir além da França. Em 2024, a Volkswagen anunciou uma parceria com a startup Revoltech GmbH para desenvolver o couro vegano LOVR, feito a partir de cânhamo industrial, sem plástico e com menor impacto ambiental. A expectativa é que os primeiros veículos equipados com esse material cheguem ao mercado em 2028.
Outras montadoras também estão abandonando o couro
✅ Tesla – já adota interiores 100% veganos em toda a sua linha.
✅ Porsche – oferece a opção de interior sem couro no elétrico Taycan.
✅ Volvo – pretende eliminar o couro até 2030, substituindo-o por materiais como o Nordico, à base de fibras recicladas, cortiça e componentes orgânicos.
✅ BMW – no modelo i3, utiliza fibras de kenaf e tecidos de poliéster 100% reciclado.
✅ Mercedes-Benz – emprega o Artico, um couro sintético de alta durabilidade.
✅ Fisker – aposta em materiais reciclados, como redes de pesca, camisetas e borracha reaproveitada.
✅ Land Rover – investe em uma combinação de lã e poliéster desenvolvida pela Kvadrat.
A decisão da Renault marca um ponto de virada simbólico para a indústria automotiva. Mais do que acompanhar uma tendência, a marca francesa se posiciona como agente ativo na transformação de um setor que busca equilibrar luxo, ética e responsabilidade ambiental. Ao eliminar o couro de seus veículos, a Renault não apenas responde a uma demanda crescente dos consumidores, mas também lança um desafio às demais montadoras: provar que é possível inovar sem sacrificar animais nem comprometer o planeta.