Energia em Lata: O Que Você Precisa Saber Sobre os Riscos e Benefícios das Bebidas Energéticas
Elas prometem foco e disposição, mas estudos mostram que o preço da energia pode ser alto para o coração e o cérebro
As bebidas energéticas estão em festas, academias, mesas de escritório e até em campos de treinamento militar. Desde a criação da primeira bebida energética, a Dr. Enuf, em 1949, o consumo desses produtos explodiu e hoje, a indústria movimenta mais de 50 bilhões de dólares por ano, com centenas de marcas e mais de 500 rótulos disponíveis no mercado global.
Mas por trás da promessa de energia imediata, surgem questionamentos importantes: quais são os riscos reais dessas bebidas para o coração, o cérebro e o desempenho físico?
O impacto na pressão arterial: pequenas latas, grandes efeitos
Por muito tempo, acreditou-se que as bebidas energéticas eram seguras para a maioria das pessoas saudáveis. Estudos iniciais mostravam que o consumo de uma lata pequena de energético não alterava significativamente a pressão arterial após 30 minutos.
No entanto, pesquisas mais recentes revelaram que o pico de efeito pode ocorrer cerca de uma hora após o consumo e aí as alterações começam a preocupar.
Uma revisão científica mostrou que essas bebidas aumentam em média 4 a 5 mmHg na pressão sistólica e cerca de 3 mmHg na diastólica em adultos saudáveis. Resultados semelhantes foram observados em crianças e adolescentes, grupo em que o aumento pode ser ainda mais relevante.
Segundo estudos clínicos, pessoas pouco acostumadas à cafeína apresentam elevações mais acentuadas na pressão arterial após ingerir bebidas energéticas.
Esses números, à primeira vista pequenos, têm impacto real: uma elevação sustentada de apenas 5 pontos pode aumentar o risco de AVC em até 20% e o de infarto em cerca de 12%, segundo dados epidemiológicos.
Quando o coração acelera demais
Outro achado preocupante envolve o intervalo QT, uma medida elétrica que indica quanto tempo o coração leva para se preparar para o próximo batimento.
Em pessoas predispostas, um prolongamento desse intervalo pode causar arritmias graves e até parada cardíaca.
Pesquisadores compararam o consumo de bebidas energéticas com uma bebida controle contendo a mesma dose de cafeína e açúcar. O resultado foi claro: as bebidas energéticas aumentaram o intervalo QT em cerca de 10 milissegundos, algo não observado com a cafeína isolada.
Esse aumento, embora pareça pequeno, já foi suficiente para levar à retirada de medicamentos do mercado, dada a associação entre prolongamento do QT e risco de arritmia.
Outras análises confirmam o mesmo padrão: o consumo constante dessas bebidas eleva a pressão arterial e prolonga o QT, reforçando a necessidade de cautela.
Cérebro sob pressão e artérias menos flexíveis
Além de alterar o ritmo cardíaco, estudos indicam que bebidas energéticas podem reduzir o fluxo sanguíneo cerebral e prejudicar a função endotelial, ou seja, dificultar o relaxamento natural das artérias.
Em um estudo clínico, uma lata grande de energético foi suficiente para reduzir a capacidade de dilatação arterial em até 50% após 90 minutos. Essa disfunção endotelial é considerada um marcador precoce de risco cardiovascular.
Casos de paradas cardíacas em jovens saudáveis após consumo excessivo, como sete ou oito latas em sequência, foram documentados na literatura médica.
Pessoas com síndrome do QT longo, condição genética presente em cerca de 1 a cada 2.000 indivíduos, são especialmente vulneráveis.
Desempenho e metabolismo: mito ou vantagem real?
As propagandas vendem disposição e performance, mas a ciência é menos entusiasmada. Mesmo entre atletas, os efeitos ergogênicos são limitados.
Em testes de resistência, o consumo de energéticos não melhorou o desempenho em simulações de corrida de longa duração quando comparado a bebidas com cafeína e açúcar.
Pior: os marcadores inflamatórios foram mais elevados após o exercício no grupo que consumiu a bebida energética.
Para perda de peso, o raciocínio é semelhante. Os efeitos estimulantes atribuídos às bebidas energéticas podem ser facilmente obtidos com café preto ou chá, que oferecem custo muito menor e menos aditivos.
Além disso, ao contrário dos vegetais ricos em nitratos, como beterraba e folhas verdes, que melhoram a oxigenação muscular e reduzem a pressão arterial, as bebidas energéticas não apresentam esses benefícios fisiológicos.
Energia imediata, risco a longo prazo
As bebidas energéticas não são vilãs absolutas, mas seu consumo exige moderação e bom senso. Elas podem elevar a pressão arterial, alterar o ritmo cardíaco e reduzir a flexibilidade das artérias, principalmente em pessoas sensíveis à cafeína ou com predisposição genética.
Os benefícios de curto prazo, como aumento de alerta e disposição, não compensam os potenciais riscos cardiovasculares quando consumidas regularmente.
Energia com Consciência
✅ Evite o consumo frequente de energéticos. Eles podem oferecer um estímulo momentâneo, mas o uso contínuo está associado a riscos cardiovasculares e metabólicos.
✅ Priorize o básico que realmente funciona: hidratação adequada, sono de qualidade e uma alimentação equilibrada são as fontes mais seguras e sustentáveis de energia.
✅ Para quem busca melhor desempenho esportivo, opte por estratégias comprovadas, como o consumo de vegetais ricos em nitratos (beterraba, rúcula, espinafre) e o acompanhamento individualizado com um nutricionista esportivo.
✅ Enquanto compostos como taurina, guaraná, carnitina e ginseng ainda carecem de evidências sólidas, a melhor forma de “recarregar as baterias” continua sendo a mais natural: descanso adequado e nutrição de verdade.
As bebidas energéticas prometem vitalidade instantânea, mas o uso frequente pode trazer riscos. Mais do que buscar energia em uma lata, é essencial fortalecer as bases do bem-estar como dormir bem, manter-se hidratado, alimentar-se de forma equilibrada e respeitar os limites do corpo. A verdadeira energia vem de dentro... natural, estável e duradoura.
Vídeo: https://nutritionfacts.org/video/flashback-friday-are-there-risks-and-benefits-of-energy-drinks/
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